quinta-feira, 28 de julho de 2011

CARTA ABERTA AOS AMIGOS HÉTEROS


Tenho sido diariamente questionado sobre minha súbita militância à causa LGBT. Pois bem, ela realmente se intensificou nestes últimos dois meses, após minha entrada em grupos correspondentes.
Lembro, que ainda adolescente, socorri um outro jovem que estava sendo espancado por uma "galera". Apanhamos juntos, eles eram uns sete contra nós dois. Conversando para saber o motivo do covarde espancamento, ele, de olhos baixos me disse que era "bicha" (termo da época) e que já estava se acostumando a ganhar porradas, pois elas aconteciam primeiro em casa e depois nas ruas. Fiquei chocado com a maneira pura e natural com que relatava, pois para ele, isso já era normal...Naquele dia surgiu um ativista social da causa gay.Nunca subi em palanques, nunca fui à uma parada gay, mas também nunca perdi uma oportunidade de contar aquela história do jovem espancado e com certeza, fiz muitas cabeças pensarem ou repensarem seus conceitos.
Venho de uma família Kardecista, sendo meu pai, Maçon daqueles guerreiros e que levava ao pé da letra, aquilo que a maçonaria tanto prega: Liberdade, igualdade e fraternidade. Fui educado desta forma, dentro do justo e do perfeito, onde todos são iguais dentro de suas "diferenças".
E fui crescendo, me tornei um homem honrado e respeitado por aqueles que me conhecem, sempre aproveitando as oportunidades para levar esclarecimento, educação (sou professor)e exemplos de dignidade.
Há cerca de dois meses, animado por um amigo, após um longo papo sobre as causas gay, fui estimulado por ele, a procurar algum grupo na internet que fosse sobre a causa e assim o fiz. Entrei para o grupo NÃO HOMOFOBIA, no Facebook, me apresentei como hétero (um estranho no ninho) e para minha surpresa, fui literalmente abraçado como irmão e é claro, correspondi aos abraços.
Comecei a ler os posts, a assistir vídeos, a ler sobre a matança covarde (que me lembrava sempre daquele jovem que socorri, lá na adolescência)que é praticada pelos homofóbicos de plantão.
Comecei a assistir vídeos e a ler entrevistas daqueles que se utilizam das palavras de Deus(deturpadas), dizendo que os gays são uma aberração. Fui adentrando este mundo, que ainda pouco conheço e a cada dia me convenço que entrei no bom combate.
Hoje, estou aqui para pedir aos meus amigos e também aqueles que por acaso lerem este texto, que busquem se informar antes de alguma ação contrária. Que parem por um minuto e reflitam sobre suas posturas, que na maioria das vezes as praticam, simplesmente porque sempre foi assim e que gay não é gente.
Comecem dentro de casa a discutir o tema entre seus filhos. Perguntem a eles o que acham, pois educar, além de dever, obrigação, é também saber ouvir. Educar é um ato de amor com responsabilidade e respeitar, deixando que eles se manifestem, é uma bela demonstração de afeto. Não imponha. Ouça. Tenho certeza que muitos de vocês serão educados por seus filhos e que alguns, poderão ter uma grata surpresa de ouvir deles um pedido: Pai, me aceite, me ame,pois sou gay. Não perca esta oportunidade de fazer seu filho ou filha, dizer primeiro para você que é gay, pois talvez eu não esteja por perto quando uma gang for espacá-lo, talvez até a morte.
Pensem nisso.
Meu fraterno abraço.
Allan Ponts

quarta-feira, 27 de julho de 2011

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Senhor, orai por nós...


Deus nos livre de um Brasil evangélico
(por: Ricardo Gondim)

Começo este texto com uns 15 anos de atraso. Eu explico. Nos tempos em que outdoors eram permitidos em São Paulo, alguém pagou uma fortuna para espalhar vários deles, em avenidas, com a mensagem: “São Paulo é do Senhor Jesus. Povo de Deus, declare isso”.

Rumino o recado desde então. Represei qualquer reação, mas hoje, por algum motivo, abriu-se uma fresta em uma comporta de minha alma. Preciso escrever sobre o meu pavor de ver o Brasil tornar-se evangélico. A mensagem subliminar da grande placa, para quem conhece a cultura do movimento, era de que os evangélicos sonham com o dia quando a cidade, o estado, o país se converterem em massa e a terra dos tupiniquins virar num país legitimamente evangélico.

Quando afirmo que o sonho é que impere o movimento evangélico, não me refiro ao cristianismo, mas a esse subgrupo do cristianismo e do protestantismo conhecido como Movimento Evangélico. E a esse movimento não interessa que haja um veloz crescimento entre católicos ou que ortodoxos se alastrem. Para “ser do Senhor Jesus”, o Brasil tem que virar "crente", com a cara dos evangélicos. (acabo de bater três vezes na madeira).

Avanços numéricos de evangélicos em algumas áreas já dão uma boa ideia de como seria desastroso se acontecesse essa tal levedação radical do Brasil.

Imagino uma Genebra brasileira e tremo. Sei de grupos que anseiam por um puritanismo moreno. Mas, como os novos puritanos tratariam Ney Matogrosso, Caetano Veloso, Maria Gadu? Não gosto de pensar no destino de poesias sensuais como “Carinhoso” do Pixinguinha ou “Tatuagem” do Chico. Será que prevaleceriam as paupérrimas poesias do cancioneiro gospel? As rádios tocariam sem parar “Vou buscar o que é meu”, “Rompendo em Fé”?

Uma história minimamente parecida com a dos puritanos provocaria, estou certo, um cerco aos boêmios. Novos Torquemadas seriam implacáveis e perderíamos todo o acervo do Vinicius de Moraes. Quem, entre puritanos, carimbaria a poesia de um ateu como Carlos Drummond de Andrade?

Como ficaria a Universidade em um Brasil dominado por evangélicos? Os chanceleres denominacionais cresceriam, como verdadeiros fiscais, para que se desqualificasse o alucinado Charles Darwin. Facilmente se restabeleceria o criacionismo como disciplina obrigatória em faculdades de medicina, biologia, veterinária. Nietzsche jazeria na categoria dos hereges loucos e Derridá nunca teria uma tradução para o português.

Mozart, Gauguin, Michelangelo, Picasso? No máximo, pesquisados como desajustados para ganharem o rótulo de loucos, pederastas, hereges.

Um Brasil evangélico não teria folclore. Acabaria o Bumba-meu-boi, o Frevo, o Vatapá. As churrascarias não seriam barulhentas. O futebol morreria. Todos seriam proibidos de ir ao estádio ou de ligar a televisão no domingo. E o racha, a famosa pelada, de várzea aconteceria quando?

Um Brasil evangélico significaria que o fisiologismo político prevaleceu; basta uma espiada no histórico de Suas Excelências nas Câmaras, Assembleias e Gabinetes para saber que isso aconteceria.

Um Brasil evangélico significaria o triunfo do “american way of life”, já que muito do que se entende por espiritualidade e moralidade não passa de cópia malfeita da cultura do Norte. Um Brasil evangélico acirraria o preconceito contra a Igreja Católica e viria a criar uma elite religiosa, os ungidos, mais perversa que a dos aiatolás iranianos.

Cada vez que um evangélico critica a Rede Globo eu me flagro a perguntar: Como seria uma emissora liderada por eles? Adianto a resposta: insípida, brega, chata, horrorosa, irritante.

Prefiro, sem pestanejar, textos do Gabriel Garcia Márquez, do Mia Couto, do Victor Hugo, do Fernando Moraes, do João Ubaldo Ribeiro, do Jorge Amado a qualquer livro da série “Deixados para Trás” ou do Max Lucado.

Toda a teocracia se tornará totalitária, toda a tentativa de homogeneizar a cultura, obscurantista e todo o esforço de higienizar os costumes, moralista.

O projeto cristão visa preparar para a vida. Cristo não pretendeu anular os costumes dos povos não-judeus. Daí ele dizer que a fé de um centurião adorador de ídolos era singular; e entre seus criteriosos pares ninguém tinha uma espiritualidade digna de elogio como aquele soldado que cuidou do escravo.

Levar a boa notícia não significa exportar uma cultura, criar um dialeto, forçar uma ética. Evangelizar é anunciar que todos podem continuar a costurar, compor, escrever, brincar, encenar, praticar a justiça e criar meios de solidariedade; Deus não é rival da liberdade humana, mas seu maior incentivador.

Portanto, Deus nos livre de um Brasil evangélico...